MIRIAM MAINARD: O AMANHÃ NO BALNEÁRIO DE SANTA HELENA

23:00 horas, dezembro, último dia de 2001, balneário na cidade de Santa Helena , Oeste do Paraná, nas portas do Paraguai. Reunidos naquele festivo local centenas de pessoas , aguardavam sorridentes e confiantes em noite estelar o novo ano que estava ali bem próximo, ao alcance de pensamentos em realizações, desejos e sonhos. Para comemorar a chegada do novo ciclo, show pirotécnico, marcado para o primeiro segundo do dia seguinte. Exatamente 15 minutos antes que os fogos de artificio rasgasse os céus em multicores, um grupo de jovens de meninas ao som de Dj’s conversavam alegremente, entre elas, a futura professora de letras, Diretora da Rede Baita Super no RS e primeira mulher presidente da ACIAL ( Associação Comercial e Industrial de Alvorada ) então com 20 anos , Miriam Graciela. Indagada por amigas quanto ao seu futuro, responde: - Logo ali na frente, quanto me formar vou embora. Aqui no interior ascender profissionalmente é missão quase impossível. Quero conhecer novos centros, cidades grandes, grandes oportunidades. Nisto chega na roda de “tricotagem” Madalena, amiga de todas, acompanhada de um desconhecido amigo de nome Jolci Mainardi, 26 anos, trabalhava no cultivo de fumo no Distrito Linha Sta. Cruz. Feitas as apresentações, o rapaz endereça seus olhares e palavras para moça que queria “descobrir novos mundos”. Iniciavam ali um diálogo nos últimos segundos de 2001, interrompido ao som do foguetório e a dezenas de abraços e gritos de Felizzzzzz Anoooooo Novooooooo de exultantes convivas. Os desconhecidos retomam a conversa, agora no novo ano, 2002. O rapaz com o semblante sério revela seu “interesse” de buscar novos horizontes, um lugar ao sol, longe das lavouras de Santa Helena, requeria muito esforço e lucro mínimo. Iria ele no futuro mudar-se para uma grande capital, conquistar sua independência financeira. Um + Um dois. Sua fala determinada soou como música nos ouvidos de Miriam, tudo que ele falara era justamente o que ela pensava, almejava. Mudar de vida, ares, cidade, liberdade para prosperar. Os olhos da moça que amava estudar brilharam, o coração acelerou e o DJ gaúcho tocou a inspiradora música do (Musical JM )... Porto Alegre é longe...estou pegando o ônibus pra te encontrar. Ela olha o fumicultor sonhador e diz: - Será que Porto Alegre é uma boa cidade para viver? Dizem que é linda. Ele sorrindo: - Sim. Só não mais bela que você. Lá tem bastante trabalho, quem trabalha vence. Hummm... e tem também o por do sol do Rio Guaíba , o mais belo por do sol de todo Brasil. Um dia, se quiseres , te levarei para ver o astro rei adormecer. Aquele primeiro encontro de “ espíritos que acreditam na força do trabalho e nos seus potenciais” nas primeiras horas no florir no primeiro dia do ano seria o primeiro de muitos. Movidos pela paixão, iniciariam uma relação amorosa, focada em ideias, planos e objetivos.... sementes do amanhã.

Vila Celeste, 45 Km do centro da cidade de Sta. Helena, Sitio dos Prediger, a família cresce, chega no mundo meados de julho de 1981 a menina Miriam Mainardi para a felicidade dos pais Inácio e Geni e dos irmãos Dirceu e Cátia. Fraldas, bicos, choros, cantigas de ninar, beijos e mamadeiras de leite diretamente das fontes, duas dezenas de vacas das raças Holandesa e Gersey. Leite este que serviria de principal fonte de renda dos pequenos produtores e agricultores. A produção leiteira chegava até 100 litros dia, atendendo o fornecimento para consumidores da região. Entre as inúmeras atividades que iniciavam as 5:23 das manhãs, além de cuidar das “vaquinhas”, criação de suínos e aves, plantio nas lavouras de milho, mandioca, aipim e soja na propriedade e outras áreas arrendadas. Na soleira da porta da casa de campo, cantares de pássaros, perfume de jardim, árvores frutíferas, frondosas figueiras do tamanho de um arranha céu de sombras incontáveis e vigorosos troncos, abraçavam em cordas balanços nas brincadeiras infantis da pequena caçula Prediger. A partir dos sete anos, Miriam começou a ajudar nos afazeres do Sitio, na madrugada levantava junto dos pais e irmãos, como primeira missão: ordenhar o leite das bovinas, logo café da manhã, escola, almoço e no período da tarde direto para os “Morundu “ na roça ( Morros de terra distribuídos entre plantações, têm como objetivo evitar o escoamento do solo, consequentemente a perda da produção ). Nos “Morros” de nome estranho a menina laborava, no topo destes, ao som da emissora “Grande Lago” nas ondas da rádio portátil assistia a “lida” de enxadas e ancinhos dos irmãos mais velhos e dos progenitores. Chega a noite, sem televisão, banho, janta e cama. Antes do relógio da parede marcar 21:00 horas, o povo já estava dormindo. O tempo passa, a pequena paranaense cresce, cresce também o número de tarefas, nos quais, a disposição era zero de executá-las. Para fugir das obrigações na roça, possíveis chineladas e de olhares de causar “arrepios” da dona Geni, estudar era o caminho. Todos dias praticamente inventava trabalhos por fazer da escola, chegou a ler um mesmo livro cinco vezes. Estudiosa, acostumada com notas máximas , quando tirou um nove, chorou, nascia uma professora. Domingos dia de culto na igreja Santa Terezinha , próxima ao sítio. Orações, violões, canto coral e amém. Depois de falar com criador, o lazer. Em nome da diversão, meninos e meninas, quinze destes, jogavam vôlei nas estrebarias, escutavam música, dançavam, nos dias de chuva “bolinhos fritos das águas do firmamento “ e jogos de cartas. No jogo da vida, o Sítio dos Prediger começava a sucumbir em dívidas. Apesar de todos os esforços do pai Inácio, os ganhos com a produção e plantação eram insuficientes para manter as despesas ordinárias, contraiu empréstimos junto ao Banco do Brasil, não pagando as dívidas, acabou por perder a propriedade e suas flores de campo . A família embarcou numa velha Belina, somente abria a porta do motorista, com as vendas dos animais comprou uma pequena casa na Vila Sub-sede, próxima do centro da cidade com nome de santa. Seu Inácio para sustentar os seus foi trabalhar de motorista de ônibus, Dona Geni cuidava dos filhos, afazeres domésticos e de uma horta enfeitada de legumes e hortaliças. Pouco tempo depois , o patriarca foi embora de casa, o filho mais velho Dirceu mudou-se para Bahia, ficando então somente as meninas e irmãs com idades de 12 e 14 anos junto da mãe. Agora como chefe da família, tendo a responsabilidade na criação das filhas, Dona Geni fora trabalhar na cidade de Foz de Iguaçú como babá, distante 100 kilômetros dos beijos e abraços das gurias, acarinhadas somente a cada 15 dias. Estas por sua vez, tomaram conta do lar, estudavam e contribuíam no orçamento familiar fazendo “bicos”. A irmã mais velha, Cátia, atuaria como babá, já Miriam, leitora contumaz de romances, cuidaria de crianças durante o dia e a noite venderia cartelas de bingo de propriedade dos tios. O destino do dinheiro ganho pela irmãs era para despesas da casa; roupas e calçados utilizados eram ganham de mãos caridosas. Dois anos depois, a moça que amava livros, ministrava aulas como professora substituta na Escola na Vila no período da Manhã, nos períodos da tarde e noite cursava magistério e conhecimentos gerais na Escola Estadual do Poeta Carlos Drummond . Formada no Ensino médio, aprovada no vestibular para Letras, décima colocada no vestibular promovido pela Universidade Estadual do Paraná ( UNIOESTE ), estágio na Associação Comercial . Nesta nova fase da vida para conciliar estudo e trabalho que ficavam longe da Vila, no centro da cidade, mudou-se para casa da madrinha Cilda Blei. Alojada na lavanderia, espaço suficiente para guardar as mínimas roupas e objetos, a imagem da santa protetora(Nossa Senhora Aparecida ) e o seu talismã, Colchito, o Colchão da Sorte de finas e poucas camadas e de muita sabedoria ganho em uma rifa. Se o travesseiro é bom conselheiro, no caso da universitária o colchão que tinha nome era um ótimo professor com mestrado. Sob sua companhia teve “dicas” de estudos , leu milhares de páginas de didáticos livros, adquiriu conhecimento suficiente para frequentar uma universidade e ter a oportunidade de começar a trabalhar. Gratidão colchão. Ali na frente, assumiu a função de secretária no CIEE, ganhou uma bolsa do curso inglês ( muito cara para pagar ), com aprendizado e vocação para o magistério, acabaria ministrando aulas da língua famosa um ano depois... God in the cause... Deus na causa. No terceiro ano da Universidade a moça que falava e ensinava línguas foi convidada pela diretora da escola onde estudou para substituir uma professora doente. Meses depois assumiria como professora titular, contratada pelo estado para lecionar línguas ( Português, inglês e espanhol ) na Escola do poeta Dummond, assumiria as turmas do ensino fundamental e médio; orgulho das suas antigas professoras , agora colegas de classe. – Goog morning students.

O mercado contava com a sociedade de dois casais, inicialmente atendia na Vila Piratini com outro nome, agora estava funcionando naquele endereço e o noivo que começara como auxiliar na loja, com o apoio financeiro do pai, compraria 20% do negócio tornando-se também sócio. Estudar, trabalhar é preciso... estar em comunhão com o criador e divertir-se também. Nas suas responsabilidades extra - classe, coordenava sob as bênçãos dos padres Dirceu e Amauri o grupo de jovens da Paróquia Sto.Antônio , famoso santo casamenteiro, testemunharia a professora caminhar na sua igreja em saltos vestida de noiva. Nos embalos de sábado a noite, músicas sertanejas, gauchescas e convites. Um destes para passar o réveillon no ano de 2001 no Balneário da Santa, a Helena. Lá conheceu o amor de sua vida, Jolci Mainardi, compartilharam segredos, sonhos no amanhã nos centro urbanos. No meio do ano seguinte, o enamorado cultivador de fumo daria os primeiros e decisivos passos na desafiadora caminhada dos seus propósitos. Viria a trabalhar como auxiliar em mercado de conhecidos da terra natal na Vila Piratini, cidade de Alvorada colada em POA, capital do RS. O namoro com a prof. Miriam seguia firme a distancia, a distancia de 881 quilômetros. Nos dois próximos anos, telefonemas, cartas, juras de amor, raros encontros, planos, noivado e casamento marcado. A data escolhida, 23.02.2004 um sábado, igreja Sto. Antônio, decorada em flores, receberia parentes, amigos, grupo de jovens cristãos que foram comemorar as bodas com os noivos. Dois dias antes ( quinta-feira ) da moça dizer sim.. sim.. sim...Ela receberia a certificação de colação de grau do curso de letras na Unioeste. Enfim professora, em fim sós, em fim casados , enfim na estrada. Hora de viver os sonhos, adeus Santa Helena, estamos chegando Alvorada para ficar e vencer. Na bagagem: esperança, confiança, determinação, fé, uma mochila com todos os pertences, o colchão “colchito” da sorte da menina que escalava os morros de Morundu e a minúscula imagem de Aparecida, carona de carro para o futuro. Dia 27 de Fevereiro marcaria a chegada dos recém casados Jolci & Miriam nas terras da Lagoa do Cocão. Morariam nos fundos do depósito do Mercado Sorriso Unisuper, rua Manuel Bernardes 16 Vila Intersul , local onde trabalhariam também.

Buenas, primeira coisa a providenciar na nova casa seria um colchão para dois, Rumo a Redlar. Foram atendidos por Alessandra Degaspari, obra do acaso, 18 anos depois vendedora e cliente estariam juntas participando na diretoria da Acial. Escolhido o produto, foi oferecido também uma cama, não tendo dinheiro para comprá-la, envergonhados, desconversaram sobre o assunto. Um ano depois o colchão de casal dos Mainardi finalmente conseguiu descansar em uma cama, e eles também. Instalados no depósito em um pequeno espaço, abrigava então somente um varal para estender roupas, o novo colchão, o banco da Kombi de entregas de rancho que serviria de poltrona, uma caixa de frutas improvisada como cômoda, sobre esta a imagem da padroeira do Brasil e a poucos metros o inseparável “Colchito”, pé de coelho em forma de colchão ... Ela pergunta para o próprio: - Será que vai dar tudo certo? O espumoso: - Acredite, tudo é possível para que tem fé. Pobreza em materialidade, riqueza em pensamentos... eles tinham tudo o que precisavam, uma ótima saúde, um teto para abrigá-los e trabalho.. Começaram a seguir a receita para o sucesso...levantar bem cedo, tomar banho e ir a luta. Cedido a dupla de dois do Paraná estava de pé, mercado a vista, de domingo a domingo, ela como caixa, ele desempenhando funções diversas.... seguindo mais uma receita do sucesso...gaste o indispensável, economize, dinheiro bom é dinheiro guardado. O Mercado Sorriso tinha a bandeira da Rede Unisuper, diga-se de passagem uma ótima ideia dos casais de sócios, com isto receberiam treinamentos específicos para administração do negócio, colocados em prática as vendas cresceriam vertiginosamente, espaço físico da loja também. Trabalho, trabalho e trabalho.. descansar, folga é para quem podia...economizar, economizar e economizar. Cinco anos depois, 2009, os outros dois casais de sócios chamando o casal de loucos sonhadores, cansados de sofrer as agruras do comércio acabaram por vender suas cotas de participação na sociedade, retornando para o Paraná. Neste período, o dinheiro economizado serviu de porta de entrada como sócio de Jolci Mainardi na rede Unisuper, sua participação na empresa seria de 16%, teria como responsabilidade a diretoria de compras de hortifrutigranjeiros. Há, agora os “doidos” moravam no apartamento em cima do depósito, devidamente mobiliado, num arroubo econômico instalariam um ar condicionado, logicamente o “ colchito” da sorte foi junto, tudo sob as benção da amada santinha. Como o sucesso não nasce por acaso, olhando para futuro, os sócios e esposos economizavam cada centavo para poder investir ali na frente, maiores investimentos melhores resultados, primeiro lugar a empresa, depois o conforto. Certa vez uma comerciante pergunta a Miriam se a família tinha casa na praia. Ela respondeu que não. Explica que o casal entendia que o valor gasto na compra de um imóvel poderia ser investido nos supermercados. A mulher não concordou com que ouviu, paciência. Na fórmula vitoriosa: trabalhar 24 horas por dia se for necessário, feriados e domingos. O mantra: Quem produz todos os dias, produzirá renda todo o dia. Investimento no planejamento, organização, direção e controle da empresa, investimento em tecnologia, marketing , treinamentos sistemáticos de capacitação e relacionamento com clientes pela equipes de colaboradores e política de humanização. Nisto um capítulo a parte, ela e Jolci que começaram praticamente do nada, fazendo tudo num super entendem o quanto um olhar carinhoso, cuidadoso sobre as pessoas, valorizando, respeitando os indivíduos como seres seria necessário para garantir um ambiente de trabalho harmonioso e feliz. Dezessete anos depois do casal de sonhadores paranaenses Jolci e Miriam chegarem em Alvorada, vencendo incontáveis obstáculos, perseverando sempre, trabalhando como “malucos’ e economizando a economia , resolveram vender suas cotas de participação na sociedade da rede Unisuper e abrir sua própria rede supermercados, Nascia o Baita Super dia 01.06.2021. Contando com a simpatia e a boa sorte de milhares clientes que diariamente fazem suas compras nas nove lojas nas cidades de Alvorada, Porto Alegre e Viamão, o comprometido atendimento de mais de 500 colaboradores, o apoio de centenas de amigos e fornecedores.

Alegria na vida profissional, muitas, muitas alegrias, momentos inesquecíveis na vida pessoal da família Mainard, ela cresce. Nascem “frutos do amor” o casal Antonielle e Antônio, hoje com 11 e 03 anos respectivamente. Os loucos e resolvidos Pais e filhos escolhem para viver num residencial na cidade de Viamão, como a fruta não cai longe do pé, a filha Antonielle herdou da mãe “ a mágica amizade com colchões “, adormecendo sobre um destes de casal já utilizado pelos pais, sonha sonhos pintados de inocência. Já outro colchão, o “Colchito”, aquele que a prof. trouxe embaixo do braço do Paraná, o amuleto da sorte, seu tesouro, o conselheiro que lhe acompanha pela vida, ganhou espaço especial no novo lar, uma pequena sala só pra ele, sendo “mumificado”em plásticos tipo faraó numa caixa de vidros. Já a imagem da Nossa Senhora Aparecida, a santinha do coração foi colocada no alto de uma cômoda no centro da sala, local de reflexões, orações e agradecimentos. Miriam Graciela, a jovem professora substituta da Vila Sub-sede, formada em Letras e Gestão Comercial, MBA em gestão de pessoas, formação em liderança em Ohio EUA, Diretora da Rede Baita Super, associasse a ACIAL ( Associação Comercial de Alvorada ) é eleita de forma unânime a primeira mulher presidente da entidade, gestão 2022/2023 e segue com seu esposo planejando e sonhando: - O Sonhar não tem limites, Logo ali no amanhã dos próximos segundos desejamos duplicar o número de lojas do super e oportunizar mais empregos e renda para centenas de famílias. A receita: perseverar, trabalhar e economizar todos os dias. Extrato entrevista dia 22.03.2022 Escritor Jairo Carvalho.