ANA ROSA DIETRICH: AS TACADAS DE UMA FLOR DE MENINA

Rua México Vila Passo feijó anos 90, ali a vizinhança de uma ponta da rua a outra conhece a menina com nome de Rosa, as janelas e as vidraças também. No meio da molecada, Ana Silva da Rosa ( 10 anos ), nascimento 07.,04.1982, filha de Manoel da Rosa ( motorista SOUL) e Nelci da Rosa ( Do lar) destacava-se no jogo de rua de taco; por ser uma delicada flor , os meninos inicialmente não a deixavam a jogar. Alegavam que a “metida” não teria força no braço para dar as tacadas, a bola poderia machucá-la, quebraria ossos , as unhas, choraria em dores lancinantes e por fim que taco era jogo de guris e não de gurias. Determinada e brava, em nome da felicidade a pequena Rosa que florescia resolve soltar seus espinhos, com o dedo em riste aponta para o “clube da bolinha” e diz: - Vocês não querem que eu jogue por que tem medo de perder ... eles por sua vez caíram na gargalhada. Mas ela insistiu, tanto insistiu , que acabaram por deixar-lhe participar da brincadeira .... coitados. Latas ao chão, tacos na mão, jogadores na posição (04), bolinha picando então... e buuum.. a primeira e certeira tacada da estreante foi parar na casa do Seu Adão, mais de cem metros do local demarcado para o jogo, ninguém até então tinha conseguido dar uma “tacada tão longe na rua e vila “. Dali para frente Rosinha passou a ser disputada a tapas pela meninada para formar dupla com um deles, era praticamente a Hortência das ruas ( referência a multi- campeã e maior jogadora de basquete do Brasil na época ), invariavelmente sempre vencia seus adversários, ganhou de presente um taco personalizado “ Magic Rosa dos Tacos”. Volta e meia quem ganhava presentes também era seu pai, por conta de tacadas em que bola achava janelas, vidraças, lâmpadas e telhas.... – Seu Manoel, a Rosinha quebrou... –Já sei... quanto é? Os Vizinhos diziam: - Esta Menina não brinca de bonecas? Brincava sim. Mas o que a moleca gostava mesmo era de dar umas tacadas na lua, jogar bolinha de gude, andar de bicicleta, brincar de salão de beleza numa casinha na árvore, nos quais a pequena artista dos cabelos junto da sobrinha Lilian ( parceira de sempre ) usavam de tesouras afiadas cortantes e sobras de tintas de cabelos da mãe para “dar” um looking na cabeça dos primos e amigos, os cortes ficavam assim “diferentes” tipo “esquisitos, inovadores”.... Caçula da família de muitos irmãos ( Jair, Rejane, Jailson, Gilmara e Sandro ), gostava de estudar, frequentou a Escola Municipal Antônio de Godoy nos anos inicias no mesmo bairro onde morava, formando-se no Ensino Médio na Escola Estadual Antônio de Castro Alves no Centro de Alvorada, para fazer uns “trocados”, investidos em preciosas e deliciosas barras de chocolates, apostava na criação de coloridas miçangas e pulseiras, vendidas a preços módicos para mulheres de poucas e muita idades que possuíam bom gosto.

Um ano antes de debutar, em tacadas e tacadas  mesmo os pais dizendo não  foi trabalhar de caixa operadora do Zaffari lado a lado com a prima Liliam,  logo  ingressou na Tecnicontrol como estagiária, promovida a secretária, permaneceu na empresa por nove anos, namorou  por duas vezes, trabalhou como caixa de açougue , cortava cabelos , embelezava-se  no Centro Estética Clair, rua Oceania  50 pda.47 , próximo da Igreja São José Operário,  de propriedade de Clair Mayer,  lhe fez uma proposta de negócio inusitada:  – Ana Rosa, decidi que vou embora da cidade, vou vender meu Centro de Beleza pra ti.  A surpresa cliente: – Nem sei o que te dizer. Primeiro: Eu nem sabia que tu querias vender teu negócio. Segundo: Não sei nada de salão de beleza, não tenho habilidade, a leveza, o olhar das cabelereiras para os cortes. Terceiro: – Meu caixa está vazio, não tenho como comprar nada no momento.  Quarto: Por que foi oferecer o Centro justo para mim…uma leiga no assunto?  Clair: – Não te preocupas menina, já pensei em tudo. Escolhi você para passar a Estética, pois te conheço a um bom tempo e percebi virtudes suficientes para administrar este espaço de beleza: sensibilidade, carisma, empatia, alegria, gosto ao trabalho, determinação, o amor ao belo, o brilho nos olhos quando o espelho reflete a beleza feminina ilustrada em nosso trabalho.  Rosa: – há é… pois então…  – Assim, decidi vender a loja , pois estou indo embora para SC, mas ficarei um ano aqui lado a lado contigo te ensinando como deixar a clientela feliz. Só aceito uma resposta ,sim.  Ana: – Preciso pensar… Isso era o ano de 2008, sábado, final de tarde, a moça sai do Centro de Beleza, ganha a rua, a cabeça fervilhando em dúvidas quanto assumir a direção da Estética,  não…sim…sim…não… eis a questão?         

 Olha para os céus e pede um sinal, recebe mais de um,  o celular toca e um amiga diz que lhe vai pagar um empréstimo que lhe devia a mais de três anos, já no carro, bate o arranque e o motor surpreendentemente pega de primeira (o dito cuja nunca pegava ), naquele instante começa a badalar o Sino da Igreja do Santo Operário, São José. Resolve então que iria ter uma conversa de trabalhadora para trabalhador com o santo carpinteiro, desce do automóvel, adentra o templo cristão, ajoelha-se, reza, faz seus pedidos, sopram-lhe pensamentos em aceitar empreender no segmento de beleza, dar uma louca tacada na vida, acende vela para esperança, luzes para o futuro…  Me  ajuda meu santinho, eu não entendo nada de nada. Deus, me abençoa  nesta nova caminhada.

Nascia a Estética Ana Rosa, contando com duas cabeleireiras, duas manicures, a companhia e a presença da sobrinha e amiga de todas as horas Lilian,  como era esperado o inicio foi difícil, ficou mais difícil ainda quando  Clair sua mestra e mentora foi embora de vez.  Baixo movimento, as contas não fechavam, para pagar o aluguel teve  que recorrer a empréstimos, mais orações, promoções de escovas gratuitas nos vizinhos comércios para tentar atrair novas freguesas. Tem o dito, que a dificuldade faz a oportunidade, a Rosa não perdeu a sua.  No ano 2010, a nova, criativa e dinâmica  empreendedora deu uma tacada de mestra repaginando a estética: reformas, pinturas, tintas, decorações em paredes, móveis zero km, equipamentos, climatização, espelhos, luzes, ação, uma verdadeira revolução no ambiente,  transformando-o em um local harmonioso, sereno, aconchegante,  pronto para receber o  Gran  público feminino,  expor a arte das suas eficientes profissionais, exaltar a beleza das mulheres  alvoradenses.  Rosa também queria derramar suas pétalas nas clientes, para isto tratou de fazer  cursos de especialização na Mirage em POA,  a dona do estabelecimento queria ser uma cabeleireira também, especializou-se em mechas, no manuseio químico de cores e tonalidades em aplicações de cabelos devidamente preparados para ganharem prestimosos elogios. As inovadora “ loucuras” deram certo, hoje para marcar hora na Estética da Ana que é Rosa, a Rosa que é Ana tem que ser com antecedência, o local está sempre lotado, até o último fio de cabelo. Entre cortes, recortes, novos cortes , mechas e maquilagens o conhecimento, a ……   formou-se em Adm. de Empresas na Escola São Marcos no ano de 2012.  As   mulheres amam ficarem belas, divertirem-se, baladas nas “nigths” também é preciso. 

Show com Michel Teló, na Woods, casa sertaneja, bairro Navegantes capital, 19 de setembro de 2014,   “A Magic dos Tacos” e agora das “Mechas” recebe o convite dos amigos Izidoro e  Claudia Lopes para ir ao evento, iriam apresentar-lhe um amigo incomum, um  médico, estaria interessado em conhecê-la. Quis o destino, que  o profissional que cuida da saúde de outrem, fica-se doente também, fora acometido de fortes e insuportáveis dores intestinais, ficando impossibilitado de comparecer a festa. O enfermo resolve  repassar o convite para o amigo  Maximiiano Dietrich ( 33 anos ) . No Camarote, o rapaz encontra-se com o trio, apresentações feitas,  Claudia e Izidoro (Izi)  resolvem colocar o corpo em movimento na pista,  a menina que quebrava vidraça ( 32 anos ) e o desconhecido ficam a sós entre centenas de “baladeiros” que lotavam o local , embalados pelo  sucesso mundial do  Aí Se Eu Te Pego do músico sertanejo no palco.  Uma parte da letra dizia… “Sábado na balada a galera começou a dançar e passou a menina mais linda tomei coragem e comecei a falar”. Aproveitando a deixa,   Maxiliano , essa altura já era Maxi solta o verbo: Professor de Educação,  Personal  Trainer, curte isso e aquilo, a cabeleireira por sua vez com o sorriso de Alvorada ao Chuí fala das suas predileções. Chega a madruga de 20 de Setembro, dia especial para os gaúchos, dia de comemorarmos a revolução farroupilha. Ali começava também uma revolução, só que amorosa  na vida da  Rosa da Vila do Passo do Feijó, percebeu que o Maxi poderia ser um Máximo, máximas afeições, máximas relações, três meses depois o casal estava morando junto, viva o amor, uma tacada para felicidade. 

Europa, Fevereiro, 2016, os apaixonados fãs de música sertaneja viajam a passeio, no roteiro turístico visita na casa da irmã da “Magic das Mechas” Gilmara na França, logo Amsterdã (Holanda ) e a romântica Veneza Italiana e seus canais. Devidamente acomodados para uma experiência clássica de passeio de gondola no Canal Canalasso o casal Maxi e Ana Rosa, frio congelante de -3 graus, abraçados e encantados apreciavam a arquitetura gótica ao som de serenatas italianas protagonizadas pelo violinista;  e aos pés da Basílica de Santa Maria Della Salute  o Trainer Personal  ajoelhe-se para sua exclusiva e amada cabelereira pedindo-lhe em noivado… Ela: Sim, sim e sim, aceito. Alianças, taças de champanhe, brindes, beijos, muitos beijos e música. O violonista homenageia os noivos dedilhando no seu instrumento a música brasileira mais conhecida e tocada na Itália: :  Aí Se Te Pego ( Michel Teló )… Sábado na balada a galera  começou…

Dois anos depois, 2018, Ana que é uma feliz Rosa diria sim, sim e sim novamente para Maxi  na presença de um juiz de paz , testemunhas, da filha Giovana de 01 ano e  do filho Gabriel no seu ventre ( na época estava grávida de três meses ) em casamento no civil,  assinaria como Sra. Dietrich.  A nobre senhora adora  passeiar em família, num destes nas ruas da capital, Petrópolis, deparou-se por acaso com um torneio de integração de jogos taco promovido por uma associação de moradores, estaciona o automóvel, desce com a turma ( esposo e dois filhos ) para assistir o evento desportivo.  Ela: – Amoooor,  já te falei que jogava taco quando era pequena…. Ele: – Sim, muitas vezes. Puxa eu nunca vi tu jogar…quem sabe poderias dar umas tacadas hoje? – Será? Faz tanto tempo.. – Fala com a gurizada.  Intervalo do jogo, a moça das mechas se aproxima dos jogadores , idade de 10 a 16 anos e diz: – E aí tudo certo? Me diz uma coisa , na idade de vocês eu jogava também… e mostrando o marido e os dois filhos segue falando: – Eu queria mostrar para minha galera ali   que sei taquear. Um dos meninos no grupo : – Mas tia não leva mal… a Sra. não vai  ter forças no braço para dar a tacada, nem sei se consegue acertar  a bolinha, eu nunca vi uma mulher jogar taco.  Ela: – Por favor gurizada só uma tacada…huminha…. A molecada entreolhou-se , balançando a cabeça concordaram em deixar a estranha “tentar” jogar.  De sacanagem ,  um dos jogadores arremessa a bolinha com toda força que possuía em direção a “casinha” da intrometida,  a esfera arredondada   voa  por uns 18 metros e chega picando no chão  ao alcance do improvisado taco feminino….. buuuuum….  a “ Magic Rosa”  manda a “pelota” pelos ares, cai a uns 80 metros do local, arrancou um ohohohohohoh… dos incrédulos assistentes.  O teimoso menino mais uma vez: – A tia  deu sorte, ninguém joga assim, joga a bola nela de novo. Por mais quatro vezes a Rosa mandou a bolinha nas nuvens, na quinta acertou uma vidraça de uma casa vizinha.  Moradores bravos na rua saíram dizendo: – Quem quebrou os vidros?  A Magic : – Amor, acalma eles e faz o pix.                                  

   

Hoje Estética Ana Rosa conta uma equipe de 11 colaboradores:       04 cabelereiros, 02 manicures, 01 massagista, 01 esteticista, 03 maquiadores, oferece serviços de cortes, penteados, maquiagem, depilação, limpeza de pele, tratamento de unhas, massagens terapêuticas, micro pigmentação, espaço noivas, etc  e etc…  e  principalmente o sorriso da sua proprietária que ama viver a vida, assim como ela é, a Ana que é Rosa, a Rosa que é Ana.

                 

Extrato entrevista : 10. 05.2022

Crônica & História: Escritor Jairo Carvalho