LUIZ SILVA DE SOUZA

“NASCIDO PARA TRABALHAR”

Inicio da manhã, sol desperto, um homem cego com um sorriso no rosto
amparado por uma bengala assistido por um menino segurando uma
pequena maleta caminham determinados passos pelas avenidas no
centro da cidade de Cruz Alta, RS. Personagens do cotidiano da
localidade por onde passam são reconhecidos, saudados: – Bom dia Seu
Ivo. – Bom dia Luizinho. Quem são eles? Uma dupla que o destino
resolveu reunir em nome do salutar trabalho. Unindo a sabedoria, a
inteligência, a amabilidade dos anos de um representante de
laboratórios farmacêuticos desprovido da visão, portanto possuía
determinadas limitações e a vitalidade, sagacidade , a esperteza de um
menino de 12 anos no atendimento de uma seleta carteira de médicos
nas vendas de remédios; um precisaria do outro e outro de um para
poder realizar toda a operação, as negociações comerciais com os
homens que vestem branco e que tem como missão cuidar da nossa
saúde.
Antes das programadas visitas e palestras nos consultórios para
apresentação e exposição dos produtos ocorria toda uma preparação,
um ritual metódico na organização em tarefas. Inicialmente Luizinho
gravaria por horas a fio sua voz em leituras de bulas de remédios à serem
comercializados. Gravações feitas, passadas a limpo, informações
decoradas, memorizadas pelo patrão “in chefe”, 42 anos, Ivo Mesquita (In
Memoriam) do rol de medicamentos, logo as preciosas amostras
estudadas caprichosamente ganhariam preciosos lugares numa maleta de
vendas. Para conseguir chegar nos “consultórios da vida” na cidade de
origem ou outras na região, o vendedor para vender seu “peixe”
precisava dos olhos do menino, este por sua vez precisava para ajudar no

sustento de sua família que contava com sua mãe viúva e 08 irmãos os
valores percebidos com seu prestimoso trabalho, ano de 1976.
Doze anos antes, dia 02 de outubro, Luiz Silva de Souza o futuro
secretário de representante farmacêutico chegava ao mundo de parto
normal nas lavouras do interior de Cruz Alta… O saudável menino seria o
sétimo filho do casal Simão de Jesus de Souza e Eufrásia Almeida da Silva
de um total de oito: Maria Augusta, Tereza, Ana Maria, Nair, Isontina,
Francisco e logo ali mais na frente nasceria a rapa do tacho Jorge. Nos
anos setenta a família Souza tinha seus proventos na lida da agricultura
familiar, bem como no trabalho de tropeiro e domador de Simão,
liderava tropeadas de bovinos e equinos oriundos da região por dezenas
de quilômetros para serem comercializados; montando em cavalos,
servindo como ajudante de ponteiro do pai o piazito Luizinho então com
sete anos . Nota: Na época as famílias que viviam nos campos
contavam com a mão de obra dos seus filhos , nascidos para trabalhar,
ainda pequenos, de tenra idade, ajudavam no cultivo das lavouras e
criação de animais, fonte de recursos para o sustento de seus lares.
Mui cedo para Luizinho deixar de brincar, mui cedo para apreender ter
responsabilidades, mui cedo para começar trabalhar… muito cedo para
ver o homem que respeitava, admirava, amava, seu progenitor ser
engolido pelas águas da Barragem Passo Real, afogar-se e ir embora
“tropear” no céu , junto de Deus. Por conta da tragédia, o prestimoso,
solidário e abençoado casal : João Almeida e Isontina Souza, irmão e
cunhada da viúva Eufrásia Silva convidam-lhe para morar junto com seus
oito filhos em sua residência no centro da cidade de Cruz Alta, nova vida,
novos desafios, saudades eternas.
Para garantir o sustento a grande e enorme “família” abraçou as
oportunidades de trabalho: A Progenitora lavaria roupas de soldados de
três quartéis, as quatro filhas auxiliariam em lares como empregadas
domésticas, o filho mais velho Francisco trabalharia em uma oficina e os
dois mais novos Luizinho e Jorge , 08 e 06 anos, seriam promovidos a
“mestres pasteleiros”, ficariam com a responsabilidade de “fazer” pastéis
em fogão a lenha e fazer a venda das saborosas e fritas iguarias, que
logo seriam devoradas por fiel clientela na cidade e pelas

comprometidas professoras da Escola Municipal 18 de Agosto , local nos
quais os irmãos conheceriam as letras e os números, apreenderiam a ler
e fazer contas nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Seguindo
carreira solo na labuta aos 11 anos, o tropeiro mirim fritador de pastéis
iria morar e trabalhar mais uma vez nas lavouras do interior de Cruz Alta
na fazenda dos Pantão dos Correias , ficaria ali responsável pela ordenha
das vacas, criação de animais e pelo volante de um valente trator na
aragem de produtivas terras… Um ano depois receberia convite de um
representante comercial de remédios farmacêuticos Sr. Ivo Mesquita,
cego por natureza, precisava de um ajudante e de seus olhos para poder
desenvolver, trabalhar a venda dos seus produtos, ele diria sim.
O precoce aprendiz de vendedor junto ao amigo e mestre conheceria
novos mundos, viajaria em malas por dezenas de municípios, visitaria
centenas de consultórios médicos, gravaria leituras de bulas e suas
fórmulas de remédios de nomes inomináveis em montanhas de fitas-
cassete, participaria no fechamento em milhares de negociações,
alcançaria recordes em desafiadoras cotas previstas pelos laboratórios ,
ganharia experiência em vendas e sua própria maleta com uma nova linha
de produtos odontológicos aos 15 anos, receberia o justo
reconhecimento em homenagens e premiações junto com seu mentor
pela “excelência em atendimento” por Câmaras Comerciais e o
Laboratório Nico do Brasil.
Aos dezesseis anos ( 1980 ), o irrequieto jovem dá adeus as malas de
amostras de remédios e resolve respirar novos “ares” … destino… cidade
de Tupanciretã , moraria com a irmã Teresa, trabalharia nas manhãs e
tardes na jardinagem de flores e plantas de perfumes exalantes na
Escola Joaquim Nabuco e a noite na sua vigia. Nos finais de semana
curtiria festas nas igrejas e inesquecíveis reuniões dançantes nas garagens
de amigos ao som de …. It’s Heartache… Bonnie Tyler… é hora de dançar
colado. Um ano e meio depois o “descolado” trabalhador resolveu voltar
para sua cidade natal (Cruz Alta) e colar-se numa cadeira de ônibus de
frente para uma roleta , atuaria como cobrador de uma empresa de
transporte municipal. Também se colaria em Dalete de Souza Borba em
casamento em 1982 , morariam no lar da nova família: o casal e duas

enteadas ( Edinéia e Andréa ) filhas da noiva . Seis anos depois o jovem
trabalhador resolveu investir na carreira de motorista estradeiro e assim
o fez… volante, caminhão, estrada, madeira, sementes, muita estrada,
muita até Mato Grosso do Sul e Norte, STOP. Uma pausa nas viagens
para comemorar a chegada da primeira filha do casal no ano de 1990,
Dalete daria luz a Jéssica Borba de Souza . De volta a estrada , logo
motorista de caminhão de caçamba em POA , caminhão de transporte no
Paraguai e no ano de 1993 seria efetivado como motorista da empresa de
viagens Planalto, rodaria o estado até 2000.
Chega 2001 e boas novidades, incentivado pela esposa que atuava como
representante autônoma de uma panificadora o incansável Luiz resolve
investir sua capacidade de trabalho em negócio próprio, empreender era
preciso, e assim o fez…Começaria então a representar comercialmente
um atacado de tecidos, as vendas aconteceram, incendiaram, pegaram
fogo, Bingo!!! Bingo!!! De olho no mercado, ano depois, prospectando
uma maior lucratividade acaba migrando para outra empresa atacadista,
Guaíba Atacado e Embalagens.
Nas estradas da vida , O menininho tropeiro, vendedor de pastéis,
ordenhador , secretário de representante farmacêutico, jardineiro, vigia
e motorista possuía uma natureza empreendedora : Persistência,
resiliência , visão, criatividade, auto – confiança e determinação; agora
homem adulto empreenderia suas virtudes no concorrido universo dos
negócios. Nascido para trabalhar e vencer vicissitudes , com fome de
vendas, arregaçou as mangas, abriu um sorriso no rosto e disse para o
mundo: – Eu vou vencer …a minha representada de embalagens vai
acontecer… e aconteceu, formaria uma robusta carteira de clientes no
estado do RS. Para enfrentar os novos desafios teria que estar bem
preparado psicologicamente e fisicamente.. logo prática de esportes em
Academias: Arte marcial de Kung fu estilizado e treinamentos de boxe.
Percebendo uma nova oportunidade para ampliar seus serviços e
consequentemente suas possibilidades em ganhos abriria lojas de
embalagens na cidade Alvorada ( DM EMBALAGENS ) na Av. Pres. Vargas
pda.49 no ano de 2006 e no ano de 2021 na rua Oceania pda.47. Hoje ,
empresário reconhecido no segmento de atacados atende clientela em

toda região sul representado a Guaíba Atacados e a sua própria empresa
( DM Embalagens), apresentando um amplo mix de mais de 5.000 itens
em produtos, tendo como carro chefe embalagens para bolo, torta,
polietilenos, sacolas e bobinas plásticas, bandejas e sacos de papel. Nesta
transição profissional da área de transportes para área de vendas a partir
de 2001 três anos depois separou-se da primeira esposa Dalete de Borba,
causou-se pela segunda vez em 2007 com Sonia Cunha separando-se em
2011, casando-se pela terceira vez com Ana Cristina de Souza em 2016.
Eclético musicalmente, aprecia a boa música sem olhar o “gênero”,
amante da dança de salão, o romântico bailarino flana nas pistas,
conduzido , envolvido pela suavidade, a sutileza rítmica de Ray Coniff e
orquestras.
Inconformado com a morte por afogamento do pai Simão de Jesus de
forma prematura e inesperada aos 44 anos de idade, o futuro
palestrante/expositor espírita passou a infância e adolescência
questionando a existência da justiça divina; Perguntava-se: – Por que
Deus sendo um pai, sendo bom, todo amor , soberanamente justo
permitiu que um chefe de família, um homem de bem partisse, morresse
tão cedo deixando para trás esposa viúva e seus oitos filhos por criar?
Por quê? Por quê? Por quê? Procurando respostas ainda na idade adulta
participaria de grupos de estudos religiosos do catolicismo cristão,
catolicismo protestante , afro descendente e mórmons na cidade de
Tupanciretã .. E elas, as respostas não vieram. Viriam então somente em
boa parte muitos anos depois (2001 ), inicialmente em reunião de
estudos espíritas em confraria na Vila Bom Jesus em POA , logo na Sede
do Grupo Espírita Chico Xavier no bairro Petrópolis na mesma cidade.
Nas reuniões daquela casa de luz aquele homem e suas dúvidas
passariam a conhecer a doutrina consoladora cristã espírita fundada em
1857 pelo professor, escritor e filósofo francês Alan Kardec baseada nos
ideais de amor e caridade; seria, falado, discutido, estudado sobre a
imortalidade da alma, pluralidade das existências e a evolução espiritual
do homem . O Olhar, a leitura espírita dos ensinamentos do mestre jesus
e a revelação da codificação espiritual fizeram com que o representante
comercial começasse a entender “O Porque da Morte” , o porque das
passagens na terra, das desigualdades de formação de caráter e

moralidade; ficando para ele ainda mais claro a explicação dos porquês a
partir dos estudos dos dez mandamentos de Moisés , a primeira
revelação: ” Não Fazer O Mal” , a segunda revelação de Cristo: “ Fazer o
Bem “ e a terceira revelação do Espiritismo : O porque de não fazer o mal,
o porque de fazer o bem e o porque de estarmos aqui. Participaria ,
estudaria e trabalharia nas casas espíritas Gabriel Dellani ( Esteio ) , Nosso
Lar ( Gravataí ) e GESA – Grupo Espírita Sementes de Amor ( Gravataí ) ,e
nesta realizaria sua primeira palestra pública substituindo um palestrante
faltante de última hora ( 2008 ). Aprofundando-se no estudo do
espiritismo no Grupo do Sul, Luiz Silva de Souza compartilha seus
conhecimentos “palestrando” em atividades de exposições doutrinárias,
escrevendo textos para os Grupos espíritas Chico Xavier e Zíbia
Gaspareto abordando temas como: “ A Evolução do Ser Humano
Espiritualmente “ , buscando em cada amanhecer tornar-se um homem
melhor praticando a lei da Justiça, amor e caridade, fazendo aos outros
tudo o que gostaria que os outros lhe fizessem.

Escritor Jairo Carvalho
Extrato entrevista Luiz Silva de Souza
Junho / 2023